26/10/2011

DANÇA E EDUCAÇÃO FÍSICA

Falar de dança é o mesmo que ressaltar o corpo em todas as suas possibilidades de movimento. Segundo Oliveira (2004) a Educação Física tem o grande objetivo de estudar o homem em seu ato de mover, pois a disciplina não existe com a ausência de movimento. Essa idéia reforça a relação entre educar o físico e a expressão corporal, destacando a vivência de diferentes formas de se mover como ferramenta eficaz no desenvolvimento dos alunos. No entanto, torna-se necessário refletir se na prática o conteúdo acima citado encontra-se em paridade com os outros presentes no ambiente escolar.

De acordo com Garaudy (1980) a dança não se limita ao espetáculo, ela é um modo de existir, um meio de expressão que “transcende o poder das palavras e da mímica”. Pode ser considerada a mais antiga das artes, pois esteve presente em todos os momentos da evolução do homem. Desde a pré-história o corpo se movimenta, comunica e se expressa. A essência do mover é a vida, contudo onde há vida há também dança. Segundo Garaudy (1980) o homem dançou todos os momentos que contribuíram para o seu desenvolvimento: a vida e a morte, “a guerra e a paz, o casamento e os funerais, a semeadura e a colheita”.

Ao representar a intencionalidade corporal, a dança se transformou numa manifestação dinâmica, flexível e adaptável, se ajustando e se diversificando ao longo dos tempos. Portanto podemos entendê-la como elemento sociocultural importante na manifestação corporal do homem, que amplia o seu entendimento sobre o mundo, possibilitando materializar toda subjetividade que é manifestada pelo indivíduo quando se tem a intenção de dizer algo através do mover. Embasado em Garaudy (1980), a dança ganha um verdadeiro significado a partir do momento que entende-se o corpo não como uma máquina bela e perfeita, mas sim como um grande transmissor de pensamento e expressão.

Com o grande poder de informar do qual o corpo é provido, a voz (som) não tem grande destaque se tratando de comunicação, fica apenas como uma manifestação emocional solta por reflexo assim como toda emoção. A partir do encontro do corpo com a voz podemos pensar no surgimento da música e consciência da existência do rítmo . A voz de alguma forma, em um primeiro momento foi a música para o corpo, e até hoje podemos nas aulas de Educação Física quando desprovidas de aparelhos de som, ver e ouvir os alunos cantando cantigas de roda, na maioria das vezes músicas veiculadas pelos meios de comunicação em massa e, infelizmente, fazendo da voz o principal e (quase) único meio para se comunicar. Com essa afirmação o desejo não é desmerecer a importância da expressão verbal, mas sim possibilitar que os alunos tenham conhecimento de suas capacidades corporais, podendo usar e abusar das mesmas.

A dança acontece juntamente com todos os movimentos naturais da vida, a mesma independe de recursos tecnológicos ou de materiais bem elaborados . Para sua realização é necessário corpo-mente se relacionando com todas as coisas existentes no universo, a essência é puramente corpo-mente e espaço. Então o que dificulta o trabalho da dança dentro do ambiente escolar?

Mesmo com toda facilidade para ser trabalhada (do ponto de vista financeiro), a dança não é bem explorada no ambiente escolar pelo professor de Educação Física, quando aparece se destaca somente em datas comemorativas, sendo muitas vezes trabalhada com profissionais contratados especificamente para esse fim. Observa-se a existência da separação entre a arte e educação. A dança carrega consigo toda uma carga cultural e desenvolvimentista da vida do próprio homem, a mesma não pode estar separada do processo de ensino aprendizagem. “Ted Shawn considerava que a dança deveria estar no centro de educação escolar e universitária e que ela era a raiz viva e carnal de toda a cultura” (GARAUDY, 1980).

GARAUDY, R. Dançar a vida. Prefácio de Maiurice Béjart; Trad. Antônio Guimarães Filho e Glória Mariani. Nova Fronteira, Rio de Janeiro – RJ, 1980.

OLIVEIRA, M.V. O que é Educação Física. Brasiliense 4ª reimpressão, São Paulo – SP, 2004.

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